terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Perfil de André Silva*, um jovem pugilista sob drogas

1- Jogos Olímpicos Londres 2012, Boxe


André Silva* é um jovem de 17 anos que vê o pugilismo para além de um desporto, vê uma forma de vida.

No bairro chamam-lhe o “caveira” devido à sua aparência física. Pratica boxe desde os 11 e foi através do primeiro soco que sentiu que algo estava prestes a mudar. 

Ser vítima de bullying tornou-se a principal razão pela qual se inscreveu.

Já pensou em voltar aos estudos e criar outras prioridades, mas é o boxe que faz com que “o sangue corra nas veias”. Tem noção dos perigos, do quão o ser humano é frágil, porém só esmurra em autodefesa. 

Quis abandonar tudo, até mesmo os que mais o apoiam mas é a droga que o faz voltar, sente-se “completo”. 


Hoje, admite que o doping o acompanha em cada combate no ringue e que a única coisa que o assombra é perder.
 
*Nome fictício. O entrevistado não quis que o nome fosse revelado devido à sua condição.

Ver reportagem do Jornal Notícias 

Entrevista a André Silva*

Doping, Drogas, Boxe estes foram os temas centrais da entrevista com o jovem pugilista que falou connosco ainda sob o efeito do vício que o acompanha.


Filipa Alves - Vês o boxe como um desporto que gera violência?
 
André Silva* – Não. Até tenho a opinião contrária. O boxe é um desporto de combate, mas a essência é o respeito pelo adversário e pela integridade física do mesmo. Aprendemos a utilizar a força e a técnica apenas desportivamente. Não seria digno de um atleta deste tipo de competição agredir um cidadão comum.


FA – As substâncias ilícitas são de fácil acesso para menores?



AS – Não, este tipo de substâncias são infelizmente vendidas pelos profissionais da área. A menos que se conheça um profissional do boxe, dificilmente se consegue encontrar este tipo de substâncias.



FA – O controle antidoping em Portugal é rigoroso?
 
AS – Não, na nossa área não. Penso que este desporto em Portugal não tem muita divulgação nem cariz. Isso faz com que a própria federação e as entidades que organizam combates não ajam rigorosamente.



FA – Existem mais colegas da tua faixa etária que consomem as “pastilhas” para ganhar combates?


AS – Sim, existem. Muitos dos meus colegas tal como eu sentem necessidade de consumir estas substâncias para obter uma melhor forma física. Pode-se dizer que é uma forma de escape a outras situações pessoais que também têm.



FA – As drogas têm algum reflexo na tua vida pessoal?
  
AS – Têm, quando não consumo fico cansado e psicologicamente saturado. Não tenho vontade de sair ou fazer outras actividades. É quase como passar um dia inteiro a correr na mesma rua, cansa não só o corpo como a mente. Afasta-me de tudo.

FA - Se não tivesses sido vítima de bullying, achas que algum dia terias entrado para o boxe?
 
AS - Acho que não iria ter esse clique que me faria avançar com a inscrição. A vontade para ir para o boxe não seria tanta. Ficava só pelo gosto e via na televisão. Também acho que quase toda a gente já passou por situações semelhantes na escola, só ainda ninguém tinha definido de bullying.



FA- Pensas em algum dia deixar de consumir?


AS – Já pensei e já tentei mas para já sinto-me num beco sem saída.

*Nome fictício. O entrevistado não quis que o nome fosse revelado devido à sua condição.

Combate Viseu 2010 Categoria 63kg Junior


SEGUE O TEU SONHO






Atualmente é difícil encontrar emprego. Segundo o site PORDATA, o número de desempregados tem vindo a aumentar há dois anos.

Os jovens de hoje representam a geração mais formada mas mesmo assim enfrentam dificuldades.

Com estas problemáticas, torna-se fundamental analisar todas as opções para apostar de forma segura, mesmo naquilo que mais gostamos. Pedro Dias é um estudante de economia na Faculdade de Economia do Porto. Tem 18 anos e persegue o sonho de ser músico. No entanto sabe que existem obstáculos que o impedem de ir mais além, daí que subsista uma dúvida entre concluir a licenciatura ou dedicar-se 100% a tocar guitarra. 




João Mota: Há quanto tempo decidiu enveredar pela via dos estudos musicais?

Pedro Dias: Desde os 10 anos. Os meus pais inscreveram-me numa escola de música. Foi mais uma formação complementar, algo inexistente quando eram mais novos. Podia ter optado por outra paixão minha, o futebol, mas na altura acordei com eles que seguir música era o ideal.

JM: Porquê escolher estudar música?

PD: Acho que é uma forma de fazer qualquer coisa diferente. É algo que adoro, aliás ouvir música é um dos meus passatempos preferidos. Esta paixão intensificou-se quando formei um grupo musical com mais um amigo e passei a tocar maioritariamente covers, mas ultimamente tenho escrito letras de músicas novas.

JM: Acha que uma boa formação numa escola de música é fundamental para uma carreira promissora?

PD: Acho que não é fundamental um bom músico ter andado numa escola de música. É ideal um músico saber que o que está a tocar tem uma ordem de ser. Eric Clapton não sabe ler música e no entanto compôs  Tears in Heaven. É um dos melhores guitarristas e compositores do mundo.

JM: Pensa seguir uma carreira profissional na música?

PD: Para já não. Costumo ir ao Optimus Alive, Super Bock Super Rock e vejo naqueles músicos o auge que pretendo atingir. Gostava imenso de dar concertos ao vivo, ver as pessoas contentes pelo que ouvem ou a cantarem as minhas letras. É este ramo da música profissional que pretendo atingir.

JM: Se pudesse seguir profissionalmente uma carreira na música, parava de estudar?

PD: Se conseguisse viver exclusivamente da música parava todos os meus projetos. Ia requerer que me ausentasse muitas vezes para concertos, ensaios e perdesse o tempo necessário para o estudo.

JM: Qual a sua ideia acerca da profissão músico em Portugal?

PD: Muito difícil. Parece que existe uma luta contra uma maré que constantemente acaba com muitas bandas. Todos os músicos devem fazer o possível para mudar esta tendência ao espalhar as músicas da melhor forma, como através da internet por que ainda há público que ouve boa música.

JM: Porquê optar por se dedicar à música ao mesmo tempo que aos estudos?

PD: Por que é uma coisa de que gosto muito. Todos temos um hobby. É algo interessante que me faz abstrair do mundo e do estudo, do stress dos testes e que me completa em termos pessoais. Estou a relaxar e ao mesmo tempo estou fazer algo que gosto. 

JM: Relativamente aos estudos em geral, pensa que uma carreira na música tem mais saída que um curso académico?

PD: Hoje em dia acho que não. Isto está mau para todos e a música está longe da exceção. O princípio é sempre o mesmo: ser o melhor dos melhores, só assim é que vamos a algum lado.








sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

D. Manuel Clemente: um pensador da Igreja

Manuel José Macário do Nascimento Clemente, conhecido na esfera pública e eclesiástica como D. Manuel Clemente, nasceu em Torres Vedras em 1948 e é bispo da diocese do Porto desde 2007. Por detrás do hábito que enverga no seu quotidiano, Manuel Clemente é um homem que procura pensar e reflectir a realidade histórica, social, cultural e religiosa portuguesa de um ponto de vista respeitador e sóbrio, atento às vicissitudes que foram compondo o património que hoje é Portugal. Fruto desse esforço intelectual que tem exercido lucidamente, quer na sua obra, quer na intervenção junto dos media, está o mérito reconhecido pela atribuição do Prémio Pessoa em 2009, o primeiro a ser recebido por um membro da Igreja, por ser “uma referência ética para a sociedade portuguesa no seu todo”. D. Manuel Clemente é, por mérito, um pensador, autor de uma obra que perscruta os meandros da consciência individual dos portugueses e colectiva da nação, uma relação que, ao longo da história nacional, foi difícil de equilibrar. Em resumo, e ultrapassados estes inconvenientes, fica a entrevista feita a D. Manuel Clemente, um sério pensador do país e da sua história.


                                                            Entrevista a D. Manuel Clemente

                                                                    Por Joaquim Pinto



                                                   Fotografia: Rui Duarte Silva in Expresso



“A ‘cultura’ existe e cresce como cultivo da vida, da relação, dos significados e dos ideais”


D. Manuel Clemente, bispo do Porto e prémio Pessoa em 2009, aborda em entrevista concedida ao blog Ipsis Verbis da Universidade Lusófona do Porto a cultura em tempos de crise, o papel que a Igreja desempenha actualmente num mundo globalizado, o tema da austeridade e o estado da democracia portuguesa.  


Joaquim Pinto - Há pouco tempo, na televisão, o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou que a crise que o país vive não se resolve com manifestações. Concorda com esta posição?

Manuel Clemente - Uma resolução democrática das coisas exige sobretudo informação, debate e participação responsável e comprometida, setor a setor: sociedade, economia, político. É trabalho constante, diário, atento.



JP - Na perspectiva da Igreja, existe uma alternativa para a austeridade?

MC - A austeridade é uma atitude geral da vida. Para que tudo chegue a todos, não pode ser muito para alguns, apenas o suficiente.



JP - O discurso actual é, principalmente, dominado pela política e economia. No meio de tantos cortes e parcos orçamentos, que lugar fica reservado para a cultura? A Igreja pode ajudar à sua emancipação?

MC - A “cultura” existe e cresce como cultivo da vida, da relação, dos significados e dos ideais. O culto cria cultura, referindo-nos à vida de Cristo, estímulo permanente de valores universais, solidários e fraternos, que se radicam em Deus.



JP - Há, actualmente, uma preocupação excessiva com a estabilidade dos mercados financeiros. Isso debilita a saúde da democracia? A democracia está a mercantilizar-se?

MC - A saúde dos mercados é causa e consequência da estabilidade da democracia. Trata-se sempre de competência e honestidade.



JP - Foi o primeiro bispo português a utilizar o youtube para transmitir uma mensagem de Natal. Recentemente o Papa Bento XVI enviou um tweet a todos os seus seguidores a partir da rede social Tweeter. Há quem fale também na possibilidade de transferir o confessionário para o mundo digital. Com estas acções a Igreja está a tentar modernizar as suas estruturas e adaptar-se ao crescente fenómeno da internet?

MC - A comunicação social, ativada pelas novas tecnologias, deixou de ser um “meio” meramente técnico, para ser o “meio ambiente” em que vivemos e convivemos. Mas não pode excluir relações autenticamente interpessoais, tanto na sociedade como na família ou na religião. (Creio ter sido o segundo, não o primeiro, bispo português a utilizar o youtube numa mensagem de Natal, depois do de Beja).



JP - Os meios de comunicação são os novos instrumentos de evangelização?

MC - Como são meios de comunicação, são meios de evangelização – que é a transmissão viva do que Cristo nos deixou e sempre oferece.




Concorda com a medida do governo em proibir a venda de drogas legais em smartshops?

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