quinta-feira, 19 de abril de 2012

Fresca e fofa: é assim a Fogaça Castelo



Sendo a fogaça o doce tradicional de Santa Maria da Feira, fui visitar uma das mais conceituadas casas que produz e confeciona todos os dias esta “relíquia” que tanto adoça a alma de todos os feirenses. À conversa com Diogo Almeida, proprietário do Café Castelo situado na zona histórica da cidade, consegui descobrir alguns dos segredos de tanto sucesso desta casa, bem como do pão doce cujo formato estiliza a torre de menagem do Castelo com os seus quatro coruchéus.


Inês Oliveira (I.O.): Há quanto tempo está no Café Castelo?

Diogo Almeida (D.A.): Posso dizer que estou aqui quase desde que nasci. Tinha três anos
quando vim para cá. 

I.O. : O negócio foi desde sempre da família ou já estava implementado?


D.A. : O negócio já estava aberto até o meu pai o comprar há quarenta e três anos. Trabalho aqui com ele há vinte anos, embora durante este período me tenha ausentado por alguns anos. Posso afirmar que trabalhar para a família não é muito agradável (risos).



I.O. : Quem trabalha no Café Castelo?

D.A. : Neste momento só trabalho eu, o funcionário e uma empregada de limpeza.


I.O. : Não está cá mais ninguém da família?

D.A. : Não (risos). Há vinte anos que assumi a pastelaria. Durante sete anos, na época que trabalhava para o meu pai, sempre ajudei no balcão e também na pastelaria. Mas, depois de
uma pequena chatice com o meu pai fui trabalhar para fora durante 9 ou 10 anos e depois, quando voltei, assumi novamente a pastelaria de forma permanente.



I.O. : Sendo a Fogaça o produto chave desta casa, qual o segredo para tanta “fama”?

D.A. : O segredo é a qualidade dos produtos e manter a tradição o mais possível. Respeitar a
receita e os ingredientes é o segredo de qualquer tipo de negócio.


I.O. : Mudam-se os tempos, mantém-se as tradições... Alguma diferença na Fogaça de hoje e na Fogaça de há vinte anos?

D.A. : Não, em termos de receita e método de fabrico é garantido que tudo continua igual. O que pode alterar é a qualidade dos produtos que se vai adquirindo.


I.O. : Fazendo a contagem da Fogaça pelos ovos, em média quantos ovos leva uma?

D.A. : Isso depende do tamanho dos ovos. A fogaça mais vendida custa cinco euros e tem cerca de 750g de massa. Isto quer dizer que cada doce leva aproximadamente 2,5 ovos.

I.O. : A Fogaça castelo é cozida em forno a lenha?

D.A. : Todo o nosso fabrico é confecionado em forno a lenha. A verdade é que dá muito mais trabalho ser cozida neste tipo de forno pois implica a aquisição de outros materiais, como a lenha em grandes quantidades, espaço para armazenar e empilhar. Além disso, o forno a lenha necessita de reparação anual, algo que não acontece com os fornos elétricos. Mas, apesar de ter sido um investimento colossal devido à sua existência desde o ano de 1943, no fim compensa porque o sabor é diferente.


O forno a lenha é o grande segredo da fogaça Castelo


I.O. : Com a crise que abala o nosso país, todos os ramos empresariais vivem momentos difíceis. Como está o negócio do doce tradicional feirense?

D.A. : Realmente houve uma quebra na venda da fogaça, sentida, sobretudo, nos últimos três anos. No entanto, há sempre um elevado consumo do doce tradicional. A grande diminuição de vendas reflete-se mais, agora, no setor da cafetaria, nomeadamente no serviço de balcão.





I.O. : Aqui na Feira já existem muitos estabelecimentos que produzem o doce da terra. Acha que a concorrência é elevada?


D.A. : A verdade é que quanto maior é o número de estabelecimentos que confecionam a fogaça cada vez se torna mais difícil a sobrevivência à crise. De repente, abriram muitas casas e apenas quem tiver mais qualidade e tradição é que sobrevive.




                                                                 Diogo Almeida explica como funciona o forno a lenha.



I.O. : Quem procura a Fogaça Castelo?

D.A. : Todo o feirense procura a fogaça Castelo. Eu penso que as pessoas só não compram a nossa fogaça por uma questão pessoal, não pela falta de qualidade. Talvez pela dificuldade de acesso, uma vez que a nossa casa está localizada numa zona pedonal. O ideal seria abrir um ponto de venda à face da estrada, no entanto, nos dias de hoje, fazer esse tipo de investimento seria muito arriscado.




I.O. : A fogaça Castelo é boa acompanhada de...

D.A. : Se este recado é para quem não conhece este doce tradicional do Café Castelo, primeiramente aconselho as pessoas a comerem a fogaça simples para que não haja uma mistura de qualquer outro paladar, como por exemplo queijo, manteiga, presunto... Mas, na minha perspetiva pessoal a fogaça é boa acompanhada com queijo da Serra, uma vez que, há uma mistura do doce com o amargo e ácido do queijo. Existe um contraste que lhe dá um sabor especial. Sinceramente, o que eu acho e que raramente as pessoas fazem é, depois de seca, torrá-la com manteiga. Esta é a forma mais tradicional de se comer a fogaça Castelo.













                                                      O Café Castelo foi dos primeiros a fabricar a famosa fogaça feirense. 




















Por: Inês Oliveira





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