Não se sabe ao certo quantos
são, apenas que são largas centenas. Vivem á margem de tudo e todos e são
ignorados pela sociedade.
Admite-se que sejam mais de seis centenas, a maioria portugueses, embora entre
eles haja já uma larga proporção de estrangeiros.
A pobreza não escolhe idade, cor, nacionalidade ou crença.
Foto: casaporto.wordpress.com |
Apesar do Natal estar a
chegar, nem todos são aqueles que têm motivos para festejar. Com a crise
aumenta o número daqueles que são esquecidos pela sociedade.
Na cidade do porto, em ruas
várias, homens e mulheres (sobre)vivem da boa vontade alheia e de refeições
oferecidas por várias associações de solidariedade. São apelidados de mendigos,
vadios ou vagabundos, nomes normalmente depreciativos por quem passa na rua e
não quer ver a realidade. Os números não são oficiais, pela dificuldade em
fazer uma
contagem que, quase diariamente se altera.
Estilo de “vida”
Ricardo Garcia de 31 anos e Augusto
Bento de 38 vivem nas “costas” do Teatro São João no Porto, em plena baixa da
cidade. Companheiros na vida da rua, encontram-se nesta situação há seis meses.
Ambos têm filhos, Augusto tem um rapaz de seis anos, e Ricardo, uma rapariga de
quatro.
Ricardo perdeu o emprego,
era e é cozinheiro. Devido a uma separação litigiosa, acrescida à falta de
apoio da família, e à perda da guarda parental da filha, Ricardo, agora sem
emprego, viu-se obrigado a enfrentar a rua.
A janela do Teatro São João,
serve-lhe de algum abrigo para a chuva, mas ainda assim é o único aconchego de
uma vida marcada pela solidão. “Esta vida
não é fácil, mas não podemos desistir, tanto eu como todos os sem-abrigo, é
preciso ter fé”, desabafou.
Agora ganha a vida a arrumar carros, afinal de contas, são os tostões ganhos ao final do dia que lhe garantem alguma subsistência.
Agora ganha a vida a arrumar carros, afinal de contas, são os tostões ganhos ao final do dia que lhe garantem alguma subsistência.
Ricardo disse “Estou desempregado mas sou cozinheiro na
C.A.S.A (Centro de Apoio ao Sem Abrigo), cozinho para noventa pessoas às
quartas-feiras”, acrescentou sorrindo. Augusto, por sua vez, não cozinha,
mas é também voluntário na equipa das quartas-feiras na C.A.S.A. Está
encarregue do empacotamento das refeições em embalagens individuais para cada
um dos sem-abrigo e posterior entrega.
Lígia Rodrigues,
Coordenadora da C.A.S.A, afirma “A casa
tenta que todos os dias haja alguém a distribuir comida quente aos sem-abrigo”,“hoje levamos cem refeições e ás vezes não dá(...),
é mesmo até ao limite da fila” (5 de Dezembro, quarta-feira). Ricardo
Garcia e Augusto Bento, sem-abrigo, ajudam outros tantos sem abrigo, à troca de
uma boa disposição, de um sorriso do outro lado. “Para nós é o melhor dia da semana, sentimo-nos úteis, sentimos que
estamos a fazer algo para ajudar os outros, os restantes dias da semana somos
uns trapos velhos sem saber para onde ir nem o que fazer”.
A maior preocupação dos
companheiros é “tentar sobreviver, tentar
agasalhar-nos o mais possível e pensar que amanhã será melhor, que o amanhã
trará um cobertor a mais”.
Deixam um recado às pessoas
que se encontram na mesma situação “não
desistam, façam força para sair desta vida, sei que é difícil mas (…) e que
tenham fé”.
Novos Sem-Abrigo
Lígia Rodrigues, acredita que se pode já
falar em novos sem-abrigo, tal como de novos pobres. “São pessoas que, apesar de terem uma casa, vivem em condições
desumanas, em habitações devolutas, sem água, luz ou até mesmo um colchão para
dormir”, explicou.
Acredita que o número de pessoas carenciadas,
“com ou sem tecto, vai aumentar”. “Os
índices de pobreza são cada vez mais elevados. Na cidade do Porto, porta sim,
porta não, existe uma família endividada. “A
previsão é que aumentem ligeiramente”, sublinhou.
http://www.youtube.com/watch?v=GQiTmDCWRgA
Por : Maria Girão Sá
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