sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013



                                                            Entrevista a D. Manuel Clemente

                                                                    Por Joaquim Pinto



                                                   Fotografia: Rui Duarte Silva in Expresso



“A ‘cultura’ existe e cresce como cultivo da vida, da relação, dos significados e dos ideais”


D. Manuel Clemente, bispo do Porto e prémio Pessoa em 2009, aborda em entrevista concedida ao blog Ipsis Verbis da Universidade Lusófona do Porto a cultura em tempos de crise, o papel que a Igreja desempenha actualmente num mundo globalizado, o tema da austeridade e o estado da democracia portuguesa.  


Joaquim Pinto - Há pouco tempo, na televisão, o patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, afirmou que a crise que o país vive não se resolve com manifestações. Concorda com esta posição?

Manuel Clemente - Uma resolução democrática das coisas exige sobretudo informação, debate e participação responsável e comprometida, setor a setor: sociedade, economia, político. É trabalho constante, diário, atento.



JP - Na perspectiva da Igreja, existe uma alternativa para a austeridade?

MC - A austeridade é uma atitude geral da vida. Para que tudo chegue a todos, não pode ser muito para alguns, apenas o suficiente.



JP - O discurso actual é, principalmente, dominado pela política e economia. No meio de tantos cortes e parcos orçamentos, que lugar fica reservado para a cultura? A Igreja pode ajudar à sua emancipação?

MC - A “cultura” existe e cresce como cultivo da vida, da relação, dos significados e dos ideais. O culto cria cultura, referindo-nos à vida de Cristo, estímulo permanente de valores universais, solidários e fraternos, que se radicam em Deus.



JP - Há, actualmente, uma preocupação excessiva com a estabilidade dos mercados financeiros. Isso debilita a saúde da democracia? A democracia está a mercantilizar-se?

MC - A saúde dos mercados é causa e consequência da estabilidade da democracia. Trata-se sempre de competência e honestidade.



JP - Foi o primeiro bispo português a utilizar o youtube para transmitir uma mensagem de Natal. Recentemente o Papa Bento XVI enviou um tweet a todos os seus seguidores a partir da rede social Tweeter. Há quem fale também na possibilidade de transferir o confessionário para o mundo digital. Com estas acções a Igreja está a tentar modernizar as suas estruturas e adaptar-se ao crescente fenómeno da internet?

MC - A comunicação social, ativada pelas novas tecnologias, deixou de ser um “meio” meramente técnico, para ser o “meio ambiente” em que vivemos e convivemos. Mas não pode excluir relações autenticamente interpessoais, tanto na sociedade como na família ou na religião. (Creio ter sido o segundo, não o primeiro, bispo português a utilizar o youtube numa mensagem de Natal, depois do de Beja).



JP - Os meios de comunicação são os novos instrumentos de evangelização?

MC - Como são meios de comunicação, são meios de evangelização – que é a transmissão viva do que Cristo nos deixou e sempre oferece.




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