Por
mais que a crise afete uma casa onde são muitos a comer, a vestir e a brincar,
nas Aldeias de Crianças SOS, instituições que dão colo a quem não tem mãe, poupa-se em tudo, menos no
afeto.
As
Aldeias de Crianças SOS têm a sua origem na Áustria após a segunda Guerra Mundial. Ao ver mães a ficar sem os filhos, e as crianças que se tornaram
órfãs, Hermann Gmeiner, fundador da instituição, lembrou-se de dar uma família
e um lar às crianças que ficaram desprotegidas. Nasceu assim a primeira Aldeia
de Crianças SOS, em Imst. A Portugal, a instituição chega 15 anos depois, com o
mesmo objectivo de acolher crianças órfãs, abandonadas ou pertencentes a
famílias de risco.
Amor,
carinho, apoio, proteção, uma família e um lar são as principais palavras chaves que as Aldeias de Crianças SOS pretender oferecer às crianças,
dando-lhes assim uma nova oportunidade de construir laços familiares, obter uma
formação sólida e se desenvolverem de forma saudável até à sua plena autonomia
e integração na sociedade.
Em
Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, a instituição nasceu em 1980. “ A nossa Aldeia
tem no momento 6 casas com 6 mães sociais, e tentamos que todas funcionem o
máximo parecido com uma casa de família. A mãe social organiza todas as
dinâmicas dentro da casa: refeições, tarefas domésticas, organização da escola.
E o chefe da Aldeia funciona como o pai das crianças. Depois tem toda uma
equipa por trás que auxilia e apoia no dia a dia das crianças.”, afirma
Catarina Perestrelo, educadora social da instituição.
“Muitas vezes apenas com os seus
irmãos ou uma mochila da escola”, como afirma a educadora social, as crianças
chegam à instituição muito frágeis e debilitadas. As Aldeias SOS pretendes
tranquilizar as crianças, quer pelo afeto e amor dado pela mãe social, quer
pelo acolhimento por parte das outras crianças da instituição, que têm um papel
fulcral na adaptação das novas crianças – “As outras crianças vêm logo a correr
para acolher as que acabam de chegar e rapidamente as integram nas
brincadeiras, de modo a minimizarem o impacto de estarem num ambiente
desconhecido. No fundo, todas as crianças já passaram por essa situação, e
secalhar por uma questão de solidariedade ajudam a integrar os novos elementos.
Além disso há depois toda uma equipa técnica, educativa, as mães sociais; que
procuram pouco a pouco irem-se aproximando das crianças, de forma a dar-lhes
espaço para que se sintam tranquilas e à vontade”, explica Catarina Perestrelo.
O
rosto da maioria dos afetos é a mãe social. As crianças precisam de um colo, de
uma família, de amor, de esperança; e são estas mulheres que abandonaram tudo
para lhes proporcionar isso.
Angelina
Valente é mãe SOS há 26 anos. Neste momento tem a seu cargo 5 crianças, entre
as quais a mais pequena da Aldeia – com apenas 2 anos –, mas afirma, entre
risos, que já perdeu a conta a todas as que já lhe chamaram de mãe. Solteira e
sem filhos biológicos, Angelina encontrou nas Aldeias SOS uma “oportunidade de
dar às crianças uma família. Porque como mãe SOS o fundamentar é isso: dar-lhes
a família que infelizmente não têm”. Recorda que viu um anuncio numa revista e
não hesitou: “interessei-me logo. Fui a Lisboa fazer um estágio, gostei e
fiquei! Até hoje nunca me arrependi da escolha.”
Outro aspeto que distingue esta
instituição dos restantes orfanatos – além da estrutura familiar em que as
crianças vivem, por exemplo, e o amor que lhes é transmitido –, é o facto de
não existir uma idade limite para as crianças poderem lá viver. Desta forma,
não se vêm obrigadas a abandonar a instituição depois de atingida a maioridade;
sabem que podem lá viver o tempo que for necessário, até casarem ou terem uma
vida profissional que lhes permita tornarem-se independentemente estáveis. Apesar
da separação acabar por ser inevitável, “os laços nunca se quebram. Há uns que
vêm cá mais que outros, dependendo também do emprego que têm. Tenho um que está
em Angola, não vem cá tantas vezes; uma que está em França, também não pode vir
cá muito mas já lá fui passar férias. Os que estão cá, normalmente vêm sempre
ao domingo cá almoçar; fica a casa cheia! Além disso, agora com a internet e os
telemóveis é mais fácil manter contacto com todos, e ainda o ano passado fui ao
casamento de dois deles.”
Crianças
“Da minha mãe social”, é o que
Mariana, de 10 anos diz que mais gosta. “Ela ajuda-nos a fazer os trabalhos de
casa, dá-nos carinho, brinca connosco. Às vezes faz palhaçadas e nós rimo-nos!”
João
tem 15 anos e está nas Aldeias SOS de Gulpilhares desde os 2. Tem uma mãe biológica
mas afirma que “ir para casa dela já não me diz nada. À muito tempo que deixei
de sentir o que quer que fosse por ela”. Mais do que um lar é o que João chama
às Aldeias de Crianças SOS: “Sempre que tenho algum problema estão sempre
disponíveis para me dar todo o apoio; dicas não faltam! Tenho todo o apoio,
mesmo a níveis psicológicos, físicos, na escola, em casa... É sempre tudo muito
bem acompanhado”. Quanto ao afeto “não me falta nada. Tenho todo o carinho,
todo o afeto... Mais do que possam imaginar. É muito importante para mim estar
aqui; tenho todas as possibilidades de ter um bom futuro... Há crianças que
ainda nem sabem a sorte que têm por estarem aqui...”
Veja aqui o SlideShow das Aldeias de Crianças SOS
Veja aqui um video sobre as Aldeias de Crianças SOS
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