Por: Inês Oliveira
Santa Maria
da Feira é uma cidade com cerca de 11 000 habitantes e situa-se no distrito de Aveiro, zona norte. Esta cidade tem-se afirmado como um grandioso território de atividades culturais e, nos últimos dez anos, a terra da Fogaça, como é conhecida, tem evoluído
bastante no setor da cultura e conta já com a realização de memoráveis
eventos. Fogaceiras, Imaginarius, Viagem Medieval, entre muitos outros, são os
nomes que ficam no ouvido de quem passa, proporcionando a todos os visitantes
apetitosos momentos de lazer.
Cristina
Tenreiro, professora do ensino secundário é a atual vereadora do Pelouro da Educação, Cultura, Desporto e Juventude da Câmara
Municipal de Santa Maria da Feira. À conversa no seu gabinete, revela como
tem sido viver à frente deste “posto” numa sociedade cada vez mais dada à
cultura, tendo em conta todas as dificuldades que se vivem atualmente. Descubra alguns dos segredos que estão reservados para este ano que
proporcionarão, a todos, mais uns grandes e inesquecíveis momentos.
Inês Oliveira (IO): Como é que uma professora do ensino secundário
foi parar a um cargo político na Câmara Municipal de Santa Maria da Feira?
Cristina Tenreiro (TR): Temporariamente estou a
desempenhar funções políticas no município de Santa Maria da Feira mas a minha
profissão é, e continuará a ser a de professora. Tenho muito orgulho em dizê-lo
pois quando andava a estudar, dizia que queria ser tudo menos professora. No
entanto, na altura, arranjar uma profissão era muito mais fácil se optasse pela
docência. Fiquei completamente seduzida pela profissão e nunca mais abandonei o
ensino. Mais tarde, por situações diversas, o acaso da vida levou-me até à política
que até então encarava de uma forma externa, embora sempre tivesse gostado e
demonstrado interesse pela área. Depois de alguns anos no ensino, integrei no
conselho executivo da escola onde trabalhava, na escola secundária de Fiães, e
penso que, por estar já há algum tempo à frente do conselho fui convidada para
ser adjunta do antigo vereador Amadeu Albergaria e foi assim que caí na política.
Depois de quatro anos como adjunta, assumi o cargo de vereadora, uma vez que o
deputado Amadeu se candidatou a deputado da Assembleia da República.
IO:Está a ocupar o cargo desde 2009. Que balanço faz da
sua prestação até hoje?
CT: Sim, desde 2009 que assumi o cargo de vereadora da Educação, Cultura, Desporto e Juventude. Tem sido um mandato muito
complicado porque, como toda a gente sabe, estamos a atravessar uma fase muito
difícil e a minha área é a mais apetecível para ser cortada. Trabalhar em condições
tão adversas e tão difíceis não é fácil. Há dias em que saiu daqui um pouco
desanimada mas considero-me uma pessoa otimista e acredito, sinceramente, que
temos de tirar valias desta crise. Temos de ser realistas, objetivos e constatar
o que é óbvio. No entanto, acho que esta crise é boa para nós porque obriga-nos
a sermos mais unidos, mais enérgicos para combater, para lutar, criar e
produzir. As associações começam a completarem-se umas às outras, começando a
produzir em conjunto. 2011 foi o pior ano da crise, foi o cair na realidade,
mas temos de superar para sairmos mais fortes.
IO: A Cultura é um
ramo que no exterior é visto como bastante rica a vários níveis. Como
carateriza a cultura em Portugal?
CT: Apesar das críticas e dos cortes orçamentais
que rodam os 38 por cento, penso que a cultura está bem e cada vez mais sustentada. Hoje
há uma maior aposta no nacional, temos grupos muito bons ao nível da música, do
teatro, do teatro de rua… Apesar das dificuldades, há mais trabalho para os
artistas agora do que havia há uns anos a trás, e como agora há mais formação,
os trabalhos estão cada vez melhores. Hoje em dia já não se pensa na cultura só
nas grandes cidades como Lisboa ou Porto. Cidades mais pequenas começam a ser
vistas como pólos culturais, como é o caso de Santa Maria da Feira. Em termos
de qualidade, acho que Portugal subiu muito o patamar e estamos num bom
caminho, tendo em conta as dificuldades. Houve uma aposta muito grande na
qualificação e no trabalho em conjunto com parcerias internacionais e isso foi
muito bom.
IO: Como vê a
evolução da cultura no concelho feirense?
CT: Em termos de desenvolvimento na cultura,
houve uma diminuição acentuada. Porém, considero que, em termos gerais, o padrão de excelência que Santa Maria da Feira atingiu é uma referência
a nível nacional. Santa Maria da Feira é, sempre, reconhecida em colóquios e
congressos de cultura a nível nacional. A cultura foi uma aposta como meio de
desenvolvimento do território que foi, nitidamente, ganha. Apostou-se muito na
qualidade e excelência e o objetivo é manter esses aspetos positivos mas,
agora, com investimentos mais reduzidos. Temos de criar bases sustentadas para
multiplicar a cultura geradora de riqueza. Santa Maria da Feira continua no
mapa como referência a nível cultural e tem-se focalizado em alguns eventos
para manter a sua excelência e qualidade. Temos um dos maiores eventos
culturais sustentáveis, a Viagem Medieval, que é procurada por muitas pessoas.
Em termos de desenvolvimento económico, a Viagem é o maior evento do concelho.
IO: Santa Maria da Feira tem-se afirmado como um
“Palco de Experiências”. Quais os principais eventos que elevaram a nossa
cidade para a ribalta dos eventos culturais em Portugal?
CT: Os eventos de
referência como as Fogaceiras que é a nossa tradição, o Imaginarius, a Viagem
Medieval, a Terra dos Sonhos, Encontros com Música, também muito importante
para o nosso território, são os principais eventos que dão nome a Santa Maria
da Feira. Todos eles continuam a ser referência de excelente qualidade, inovação,
criatividade e não envergonham, muito pelo contrário, são motivo de orgulho. A
nossa cultura continua no top e temos, também, um trabalho que não é tão visível
mas que cada vez é mais reforçado que é o trabalho e participação das associações
como é o caso da Casa da Gaia com as danças do mundo. O Cirac e o Orfeão também
promovem grandes eventos de qualidade e de grande contributo para a sociedade.
Há um trabalho com as associações para a sua promoção e sustentabilidade uma
vez que a câmara tem vindo a reduzir os apoios.
IO: Como disse, a Viagem Medieval é, sem dúvida,
o maior evento realizado em Terras de Santa Maria. Quais os projetos em mente
para continuar a inovar nas próximas edições?
CT: Todos os anos
vamos inovando. A preparação da Viagem Medieval começa logo em setembro e assim
que acaba, a data do próximo ano é, desde logo, definida. A partir desta
altura, semanalmente, há uma reunião para discutir os planos da nova edição. Há
um trabalho preparatório, de uma equipa, muito consolidado, muito pensado,
trabalhado e visto ao pormenor. É um ano de preparação que começa pela escolha
do tema que este ano recairá sobre o reinado de D. Sancho I. Há uma pesquisa
histórica para saber o que foi mais importante naquela época e, depois, fazemos
uma escolha dos temas que achamos mais interessantes para serem retratados.
Neste evento, a participação das associações é extremamente importante pois
ficam encarregues da organização das mais variadas atividades. Há um trabalho
muito cuidado e sempre com grande monitorização para podermos dizer que é uma
recriação com rigor. Todas as decisões são tomadas por elementos da câmara, da
Feira Viva, e da Federação das Coletividades e, neste momento, já está decidida
a imagem que fará parte dos cartazes deste ano. O preço está, também, em
discussão pois este ano existirão dois tipos de pulseiras: para apenas um dia
ou para os dez dias. Para muitos, a Viagem Medieval é uma paixão. A cidade pára,
o cheiro é diferente e toda a gente tem orgulho em fazer parte deste grandioso
evento.
IO: Guimarães
foi a cidade, este ano, eleita como Capital Europeia da Cultura. Acha que
Santa Maria da Feira tem condições para um dia aspirar a ser uma Capital
cultural?
CT: Acho que sim. A Capital Europeia da Cultura é
escolhida através das candidaturas das várias cidades e o município de Santa
Maria da Feira teria apenas de concorrer. No entanto, não foi, até ao momento,
nossa intenção candidatarmo-nos devido a vários fatores mas penso que a médio
prazo chegaremos lá. Não queremos competir com as grandes cidades, queremos ser
grandes naquilo que fazemos e fazer, essencialmente, para nós mas com redes do
norte, Península Ibérica e cada vez expandir mais. Nós temos a noção que é
muito importante a internacionalização e estamos preparados para chegar à
Europa e a todo o mundo. É preciso ter os pés bem assentes na terra para
crescer com sustentabilidade.
IO: A
Feira tem muita atividade no período do verão. O que acha que pode e deve ser
feito para dinamizar mais o concelho no inverno?
CT: Muita coisa poderia ser feita e penso que as
coisas irão acontecer. A crise não ajuda nas apostas mas estamos a trabalhar
nesse sentido, existem em mente muitos projetos. Neste momento, no inverno, o
que temos de muito forte é a vida noturna que tem grande vitalidade mas que, no
entanto, por vezes, é frágil. Estamos a criar comissões para que os projetos não
sejam perenes e frágeis mas mais consistentes. Em termos urbanísticos, temos um
espaço riquíssimo, temos é de diversificar um pouco o comércio, não ter só o
espaço “noite”. Apostar nas tardes e nos fins de semana para conseguirmos
dinamizar esta zona, a zona histórica, apelando à presença dos mais variados públicos.
IO: Acha que a
cultura é desvalorizada pelo cidadão “normal”?
CT: Sim. De imediato, a cultura é desvalorizada
por muitos mas quando começam a conhecer e a falar sobre o assunto, acabam por
reconhecer que é importante. É necessário, sempre, assegurar o primário, a
alimentação, um trabalho mas o Homem, para ser equilibrado tem de ter, sempre,
algo místico, tem de permitir o sonho e dar asas à sua criatividade. A cultura
faz parte da génese do Homem.
IO: Se tivesse uma quantia de dinheiro ilimitada para fazer
algo realmente interessante em Santa Maria da Feira, como o realizar de um
sonho, o que seria?
CT: De imediato não apostaria na cultura porque a educação está mais
necessitada. Primeiramente, o grande objetivo seria acabar os centros escolares
previstos na carta educativa. Depois, ao nível da cultura era apostar na
requalificação do matadouro que acho que é um espaço riquíssimo e, também, na
requalificação doa auditórios de Milheirós de Poiares e Canedo.
E como o festival de teatro de rua está à porta, aqui fica o vídeo promocional da próxima edição do Festival "Imaginarius" a relizar nos próximos dias 25 a 27 de maio - Fonte: youtube
E como o festival de teatro de rua está à porta, aqui fica o vídeo promocional da próxima edição do Festival "Imaginarius" a relizar nos próximos dias 25 a 27 de maio - Fonte: youtube
Vídeo de uma encenação de uma batalha no Castelo de Santa Maria da Feira - Viagem Medielval 2011 - Fonte: youtube
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