quarta-feira, 30 de maio de 2012

Aldeias de Crianças SOS: o amor de uns segundos pais

Por mais que a crise afete uma casa onde são muitos a comer, a vestir e a brincar, nas  Aldeias de Crianças SOS, instituições que dão colo a quem não tem mãe, poupa-se em tudo, menos no afeto. 


As Aldeias de Crianças SOS têm a sua origem na Áustria após a segunda Guerra Mundial. Ao ver mães a ficar sem os filhos, e as crianças que se tornaram órfãs, Hermann Gmeiner, fundador da instituição, lembrou-se de dar uma família e um lar às crianças que ficaram desprotegidas. Nasceu assim a primeira Aldeia de Crianças SOS, em Imst. A Portugal, a instituição chega 15 anos depois, com o mesmo objectivo de acolher crianças órfãs, abandonadas ou pertencentes a famílias de risco.
Amor, carinho, apoio, proteção, uma família e um lar são as principais palavras chaves que as Aldeias de Crianças SOS pretender oferecer às crianças, dando-lhes assim uma nova oportunidade de construir laços familiares, obter uma formação sólida e se desenvolverem de forma saudável até à sua plena autonomia e integração na sociedade.



Em Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, a instituição nasceu em 1980. “ A nossa Aldeia tem no momento 6 casas com 6 mães sociais, e tentamos que todas funcionem o máximo parecido com uma casa de família. A mãe social organiza todas as dinâmicas dentro da casa: refeições, tarefas domésticas, organização da escola. E o chefe da Aldeia funciona como o pai das crianças. Depois tem toda uma equipa por trás que auxilia e apoia no dia a dia das crianças.”, afirma Catarina Perestrelo, educadora social da instituição.
            “Muitas vezes apenas com os seus irmãos ou uma mochila da escola”, como afirma a educadora social, as crianças chegam à instituição muito frágeis e debilitadas. As Aldeias SOS pretendes tranquilizar as crianças, quer pelo afeto e amor dado pela mãe social, quer pelo acolhimento por parte das outras crianças da instituição, que têm um papel fulcral na adaptação das novas crianças – “As outras crianças vêm logo a correr para acolher as que acabam de chegar e rapidamente as integram nas brincadeiras, de modo a minimizarem o impacto de estarem num ambiente desconhecido. No fundo, todas as crianças já passaram por essa situação, e secalhar por uma questão de solidariedade ajudam a integrar os novos elementos. Além disso há depois toda uma equipa técnica, educativa, as mães sociais; que procuram pouco a pouco irem-se aproximando das crianças, de forma a dar-lhes espaço para que se sintam tranquilas e à vontade”, explica Catarina Perestrelo. 





O rosto da maioria dos afetos é a mãe social. As crianças precisam de um colo, de uma família, de amor, de esperança; e são estas mulheres que abandonaram tudo para lhes proporcionar isso.
Angelina Valente é mãe SOS há 26 anos. Neste momento tem a seu cargo 5 crianças, entre as quais a mais pequena da Aldeia – com apenas 2 anos –, mas afirma, entre risos, que já perdeu a conta a todas as que já lhe chamaram de mãe. Solteira e sem filhos biológicos, Angelina encontrou nas Aldeias SOS uma “oportunidade de dar às crianças uma família. Porque como mãe SOS o fundamentar é isso: dar-lhes a família que infelizmente não têm”. Recorda que viu um anuncio numa revista e não hesitou: “interessei-me logo. Fui a Lisboa fazer um estágio, gostei e fiquei! Até hoje nunca me arrependi da escolha.”
            Outro aspeto que distingue esta instituição dos restantes orfanatos – além da estrutura familiar em que as crianças vivem, por exemplo, e o amor que lhes é transmitido –, é o facto de não existir uma idade limite para as crianças poderem lá viver. Desta forma, não se vêm obrigadas a abandonar a instituição depois de atingida a maioridade; sabem que podem lá viver o tempo que for necessário, até casarem ou terem uma vida profissional que lhes permita tornarem-se independentemente estáveis. Apesar da separação acabar por ser inevitável, “os laços nunca se quebram. Há uns que vêm cá mais que outros, dependendo também do emprego que têm. Tenho um que está em Angola, não vem cá tantas vezes; uma que está em França, também não pode vir cá muito mas já lá fui passar férias. Os que estão cá, normalmente vêm sempre ao domingo cá almoçar; fica a casa cheia! Além disso, agora com a internet e os telemóveis é mais fácil manter contacto com todos, e ainda o ano passado fui ao casamento de dois deles.”


Crianças



  “Da minha mãe social”, é o que Mariana, de 10 anos diz que mais gosta. “Ela ajuda-nos a fazer os trabalhos de casa, dá-nos carinho, brinca connosco. Às vezes faz palhaçadas e nós rimo-nos!”
                João tem 15 anos e está nas Aldeias SOS de Gulpilhares desde os 2. Tem uma mãe biológica mas afirma que “ir para casa dela já não me diz nada. À muito tempo que deixei de sentir o que quer que fosse por ela”. Mais do que um lar é o que João chama às Aldeias de Crianças SOS: “Sempre que tenho algum problema estão sempre disponíveis para me dar todo o apoio; dicas não faltam! Tenho todo o apoio, mesmo a níveis psicológicos, físicos, na escola, em casa... É sempre tudo muito bem acompanhado”.          Quanto ao afeto “não me falta nada. Tenho todo o carinho, todo o afeto... Mais do que possam imaginar. É muito importante para mim estar aqui; tenho todas as possibilidades de ter um bom futuro... Há crianças que ainda nem sabem a sorte que têm por estarem aqui...”


Veja aqui o SlideShow das Aldeias de Crianças SOS
Veja aqui um video sobre as Aldeias de Crianças SOS 
Veja aqui uma reportagem sobre as Aldeias de Crianças SOS


Inês Marques

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